
Tal como, para destacar os casos da DETA e da DTA, mencionei as experiências prévias de transporte aéreo, a partir de Alverca, dos SAP em 1927, da SPELA, dois anos depois, e da Aero Portuguesa, em 1934, justifica-se que agora sublinhe a aventura de 1924 para ser levada a cabo uma primeira ligação por ar a Macau, bem como a que teve lugar dez anos mais tarde para alcançar Timor. Se aquelas haviam tido o suporte de capitais alemães e franceses, estas só contaram com o entusiamo de alguns veteranos da aviação.
Com efeito, os mesmos Sarmento de Beires e Brito Pais, que, em 1920, haviam protagonizado a primeira tentativa de cruzar o “canal” aéreo entre o continente e a Madeira com o Breguet 14A-2 “Cavaleiro Negro”, conseguiram chegar a Macau em 1924, recorrendo a um Breguet 16-bn2, o “Pátria”, e a um DeHavilland DH 9-A, o “Pátria II”, efetuando um total de 116 horas de voo, para percorrer mais de 16 mil quilómetros, em dois meses e meio, através do norte de África e da Índia, deparando então com alguns episódios técnicos e atmosféricos assustadores e efetuando diversas escalas quase epopeicas, atentas as limitações existentes.
Mesmo em 1934, o “Dilly” ainda levou duas semanas a percorrer a distância geográfica e social entre a Amadora e Timor: tratava-se de um DeHavilland DH-85 Leopard Moth, utilizando um motor de 130 Cv, com depósitos suplementares que aumentavam a sua autonomia para até 9 horas de voo, sob a responsabilidade do piloto Humberto Cruz, com o apoio técnico de Gonçalves Lobato, que haviam conseguido congregar o apoio do jornal O Século, para ser organizada uma subscrição pública a fim de serem conseguidos investimentos, com vista à aquisição da aeronave.
A criação dos TAT-Transportes Aéreos de Timor ocorreria em 1939, começando, em 1941, por ser utilizado um avião fretado e um piloto holandês. A realização de voos próprios teve lugar a partir de 1954, entre Dili e Baucau, com recurso, entre 1963 e 1967, a três Auster cuja montagem se processara nas OGMA de Alverca, a um DeHavilland Dove, e, desde 1969, a um Fokker 27 Friendship, para ligações entre Baucau e Darwin. A australiana QANTAS contribuía para alimentar o tráfego.
A MATCO – Companhia de Transportes Aéreos de Macau, foi fundada em 1947 para ligações de passageiros, carga e correio com Hong-Kong, Saigão e Bornéu, apoiando-se, durante os primeiros anos, no movimento dos Clipper com que a Pan American Airways realizava ligações aéreas através do Oceano Pacífico.
Tanto os MATCO, como os TAT, tiveram, a fazer crescer os respetivos tráfegos, o desenvolvimento das regiões vizinhas, designadamente Hong Kong, através da rede da PAN AM, como acabei de referir, Bangkok, com estímulo da Imperial(atual British) Airways, ou Indonésia, onde outras companhias coloniais de aviação – como, por exemplo a GARUDA, criada pela KLM em 1947 e com sede em Jacarta, que constituíram o que hoje se classifica como HUB’s compensavam, alimentando-as, a pequena dimensão das transportadoras aéreas criadas pelos escassos capitais portugueses.
Faça-se uma pausa, antes de terminar este artigo: acabei de me referir à KLM, a mais antiga, fundada em 1919, à QANTAS, criada na Austrália, o lado oposto do mundo de então, em 1920; à British Airways, fundada como Imperial Airways em 1924 e à PAN AM, mítica companhia de aviação americana, criada em 1927 e falida em 1991.
Será caso para retomar o ditado popular frequentemente citado: “os extremos tocam-se”! Se não é dos extremos que estamos a falar, será certamente dos motores da economia, que, independentemente das distâncias e dos anos, têm posto o mundo a mexer-se, a funcionar. KLM, British Airways, Pan American, GARUDA e QANTAS: a globalização do mundo a acontecer, com a criação de companhias de aviação interdependentes, da Europa à América e à Ásia, quando ainda não se recorria a tal conceito, o da globalização, para ilustrar o desenvolvimento em curso!